A coletânea foi feita com muito esmero, uma vez que não é uma fácil decisão escolher entre tantos contos de Poe, King e Lovecraft, por exemplo, autores que sou fã declarada (também sou uma consumidora descontrolada de contos em geral). Imagino o trabalho e dedicação por parte dos organizadores. Só podemos agradecer por ter um livro desses às mãos, e pela dedicação, seleção e introdução de Julio Jeha. Ah, uma observação válida: o conto de H. P. Lovecraft é a tradução de uma história inédita no Brasil!
“Tanto nas empreitadas físicas quando nas intelectuais o mal absoluto e definitivo é a morte, já que ela encerra nossa existência”.
Como sempre, existe uma grande dificuldade em trazer uma resenha se o livro é de contos. Tenho certeza que minha escrita ficaria cansativa demais se eu falasse uma linha sequer sobre todos os 19 tesouros que li, e que gostaria muito de contagiar a cada um de vocês a sentir vontade e prazer em ler. Dessa forma, decidi falar um pouco sobre os 2 que mais eu gostei. E como sou fã assumida de Stephen King desde pequenininha, vou deixar o conto “Vovó” de fora dos meus prediletos nesta edição, assim como “O Barril de Amontillado” (Poe), pois vocês devem estar cansados de saber o tamanho da minha devoção por esses dois norte americanos. Entendam-me, por favor!
+ { #RESENHA } EDGAR ALLAN POE: MEDO CLÁSSICO VOL.2
“Como as histórias a seguir nos mostram, a literatura do medo é, sobretudo, múltipla e não se deixa capturar em um só desenho. A retórica do indizível, marcada pela presença do monstro, torna a própria literatura monstruosa: recusando-se a ser circunscrito por uma definição, o mal causa um curto-circuito na significação ao se conectar com uma rede de metáforas sem limites”.
Ficamos conhecendo um sádico que quando lhe dá vontade, pratica o bem. No caso, essa sua ‘boa ação’ se dá conforme lhe conceda o poder de exercitar seu prazer. Ele brinca com as pessoas, com seus sentimentos, e se o resultado disso for devastador para o outro, tanto melhor!
Em certo momento da história Machado de Assis descreve uma cena de tortura a um simples rato, que olha, é de tirar o sono de qualquer um. Com certeza tal descrição deve figurar entre umas das mais terríveis dentro da literatura brasileira. Fiquei com muito asco de imaginar que realmente existem pessoas capazes de cometer tais atos e sentirem imenso prazer em fazê-lo. Essa cena foi a mais real e crua em todo o conto (no meu ponto de vista)!
Esse conto veio como uma tentativa bastante sagaz e eficaz do autor em expor e explicar sem nenhum floreio o que significa o termo sadismo. Existe uma grande chance de você ficar impressionado após ler essas linhas.
“Apenas quando a literatura reconhece sua cumplicidade com o mal é que ela cumpre sua natureza, que é comunicar o essencial”.
Quem possuir esse amuleto em mãos tem a ‘sorte’ de poder lhe fazer os tão famosos ‘3 desejos’. Como sempre, os desejos que preenchem o coração do homem acabam por interferir na ordem normal das coisas, atrapalhando o desenvolvimento natural dos acontecimentos.
Já podemos deduzir que o preço a ser pago por esses 3 pedidos passa longe de ser leve. As consequências são terríveis, e constitui uma formação moral em mim que já conquistei há algum tempo: NADA vem de graça. O que é fácil demais, ou irá da mesma forma que veio, ou exigirá demais de você (pense sempre nas consequências)!
‘A literatura não é inocente’, diz Bataille, ‘ela é culpada e deveria reconhecer-se como tal’”.
A diagramação da edição ficou bem simples, em folha amarelada, e uma gramatura muito confortável ao leitor. A gente vai passando as páginas, vai devorando o que os escritores estão nos contando, e nem percebe o tempo passar. Repito que a edição em capa dura ficou maravilhosa, e o estilo de fonte gótica deu todo uma característica especial, assim como a escolha de cores. Ou seja, livro bom e bonito, por dentro e por fora. Já virou aquele xodó da estante. Fica também a dica de que você poderá ler contos de medo de alguns autores que você nunca imaginaria terem textos que mexem com esse tipo de imaginário! Se jogue. Não irão se arrepender.